Nos últimos anos, o mercado imobiliário em Portugal tem sido palco de uma escalada constante nos preços das habitações, deixando potenciais compradores e arrendatários em uma situação delicada. Segundo os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), o valor médio das habitações em todo o país aumentou cerca de 8% em 2024, e a tendência de alta parece estar longe de terminar.
Uma bolha à vista ou uma nova realidade econômica?
Especialistas do setor divergem sobre se estamos a assistir à formação de uma bolha imobiliária ou a uma adaptação do mercado a novas condições económicas. O aumento da procura, impulsionado por fatores como o turismo, o interesse de investidores estrangeiros e o crescimento do trabalho remoto, fez disparar os preços em áreas urbanas como Lisboa, Porto e Algarve. Para Pedro Vicente, economista especializado no mercado imobiliário, “o cenário atual resulta de um desequilíbrio entre a oferta e a procura. Sem políticas eficazes de habitação, é natural que os preços continuem a subir”.
Lisboa e Porto: os epicentros da alta de preços
Nas principais cidades do país, os preços das habitações ultrapassaram os limites do razoável para muitos moradores. Em Lisboa, o preço médio por metro quadrado já ultrapassa os 5.000 euros em algumas zonas centrais, enquanto no Porto o valor ronda os 3.800 euros. Esta realidade tem empurrado muitos residentes para a periferia, onde os preços ainda se mantêm ligeiramente mais acessíveis, mas também em ascensão.
Investimento estrangeiro: um motor do mercado?
O investimento estrangeiro, impulsionado em parte pelos programas de Visto Gold e de Residente Não Habitual, desempenhou um papel fundamental na valorização imobiliária. Segundo um relatório da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI), cerca de 25% das transações imobiliárias realizadas em 2024 foram feitas por estrangeiros, sendo os franceses, os brasileiros e os britânicos os principais compradores.
Embora essa onda de investimento traga benefícios económicos, como a recuperação de imóveis degradados e a dinamização do setor da construção, também contribui para a gentrificação e dificulta o acesso à habitação para a população local.
O arrendamento também não escapa à escalada de preços
O mercado de arrendamento também tem sentido os efeitos desta pressão. Em 2025, o preço médio de arrendamento em Lisboa já ultrapassa os 1.500 euros por um T2, enquanto no Porto ronda os 1.200 euros. Este cenário afeta sobretudo jovens e famílias de classe média, que enfrentam dificuldades para encontrar soluções habitacionais compatíveis com os seus rendimentos.
“A situação é insustentável. Se o governo não agir rapidamente, a habitação vai tornar-se um luxo reservado a poucos”, alerta Ana Silva, representante de uma associação de defesa do direito à habitação.
O papel das políticas públicas
O governo tem tentado implementar medidas para travar o aumento dos preços, como o Programa de Arrendamento Acessível e a construção de habitação pública. No entanto, segundo analistas, estas medidas ainda são insuficientes para fazer face ao ritmo acelerado do mercado. “Precisamos de um plano abrangente e de longo prazo que combine estímulos à construção com maior regulamentação do mercado de arrendamento”, sugere João Marques, urbanista e professor universitário.
Conclusão: um mercado em ebulição
O aumento dos preços das habitações em Portugal reflete um mercado imobiliário dinâmico, mas com muitos desafios pela frente. Para quem pretende comprar ou arrendar, a realidade atual exige planeamento cuidadoso e, em muitos casos, disposição para se afastar dos grandes centros urbanos. Enquanto isso, resta à sociedade esperar por soluções eficazes que permitam equilibrar a balança entre acessibilidade e valorização.
Como diria o escritor britânico Oscar Wilde, “uma casa não é apenas um lugar onde vivemos, mas onde também sonhamos”. Portugal, com o seu encanto e qualidade de vida, continua a ser um destino sonhado por muitos — resta agora garantir que também possa ser vivido por todos.